segunda-feira, outubro 07, 2013

Hoje a cantora Pitty faz 36 anos

A difícil vida de Isadora Duncan, a bailarina dos pés descalços


A "dançarina dos pés descalços", a "filha das flores", "a Divina". No início do século XX a Europa e o Mundo (à exceção dos EUA) renderam-se ao talento, à graça e à ousadia de Isadora Duncan, a iconoclasta da dança que rejeitou o balé rígido da época (achava que ele distorcia a forma humana), a primeira a "dançar a música e não ao som da música." Em certo sentido, foi uma das precursoras do movimento hippie, muito antes que este sonhasse em existir.

Dona de uma beleza exuberante, com cabelos vermelhos flamejantes e olhos cor de violeta, Isadora Duncan na realidade se chamava Dora Angela Duncan, a mais nova de uma família de quatro irmãos, nascida na cidade de San Francisco, na Califórnia, EUA, em 26 de maio de 1877. Logo após seu nascimento, seu pai abandonou a família e a mãe de Isadora obrigou-se a manter os filhos dando aulas de piano e tricotando luvas e mantas, que vendia de porta em porta. Aos 10 anos, "Dorita" abandonou a escola e passou a dar aulas de dança. Aos 15, era uma formosa mulher, de pernas longas e reconhecida beleza.

No final do século XIX seu talento já estava consagrado. Dona de um estilo único, ela saltitava pelos palcos usando apenas pedaços de gaze enrolados no corpo. Assim, seminua, encantava platéias e escandalizava muita gente - principalmente senhoras. Certa feita mais de 40 mulheres da sociedade retiraram-se da sala onde ela estava se apresentando, em protesto contra a sua "imoralidade". Nos Estados Unidos, sua terra, nunca foi aceita e nunca fez sucesso - isso era uma das suas maiores frustrações.

A estas alturas, porém, Londres, Paris e Berlim já estavam fascinados por ela. Isadora Duncan tornava-se um mito e seus rumorosos casos de amor davam o que falar, entre eles o com Paris Singer, herdeiro das máquinas de costuras Singer, com quem teve um filho. Cobrando preços altíssimos, a menina pobre então tinha o mundo a seus pés - era a "Divina Isadora". Mesmo assim, ou talvez por isso, não esquecia do seu passado e compadecia-se dos sofredores, tendo adotado 20 crianças pobres na Alemanha, onde fundou uma escola. "Quero dar-lhes uma vida melhor, a fim de que mais tarde possam semear alegria e beleza como um clarão sobre este mundo triste", justificou ela.

Em 1916 Isadora Duncan esteve no Brasil, dançando no Teatro Municipal do Rio de Janeiro. Tinha já quase quarenta anos e havia, três anos antes, vivido uma terrível tragédia pessoal. Foi no dia 19 de abril de 1913, quando seus dois filhos, um de sete e outro de apenas dois anos, viajavam de carro para Versalhes, juntamente com a governanta da família. Em uma curva perto do rio Sena o motor parou e, sem puxar o freio, o motorista saiu para verificar o problema. Nesse instante o carro pulou para e frente e mergulhou nas águas, que ali tinham uma profundidade de 12 metros. Somente uma hora e meia depois o veículo foi localizado.

Em 1922 Isadora casou-se com o poeta russo Sergei Esenin, 17 anos mais novo que ela. O relacionamento foi conturbado: Esenin, bêbado, espancava, roubava e até tentou matá-la. Por fim, suicidou-se em um quarto de hotel.

Extremamente supersticiosa, a dançarina acreditava que os melros, pássaros pretos, eram mensageiros da morte. Ela afirmava ter visto três deles perto do quarto dos seus filhos, pouco antes da morte deles. No dia 14 de setembro de 1927 - aos 50 anos de idade - Isadora, já pobre e quase esquecida - saiu a passear em um Bugatti, com um amigo e namorado, nos arredores da cidade de Nice, na Costa Azul francesa. Antes, ligou o gramofone - o que tocou foi o sucesso "Bye, bye, Blackbird" (Adeus, adeus, Melro). Ao entrar no carro, usando um longo xale vermelho enrolado no pescoço, disse aos amigos: "- Até à vista! Parto para a glória!." Foram suas últimas palavras. A ponta do xale enroscou-se nos raios da roda traseira e ela teve o pescoço partido, morrendo

quinta-feira, outubro 03, 2013

Hoje Giselle Itié completa 32 anos

O Senhor Diretas morreu naquele outubro de 1992, em Angra dos Reis. Era o fim de uma época.

Angra dos Reis, litoral do Estado do Rio. Segunda-feira, 12 de outubro de 1992, feriado da padroeira do Brasil (Nossa Senhora Aparecida) e Dia da Criança. O tempo está ruim, com chuvas, trovoadas e ventos naquela região da costa sul fluminense quando o deputado Ulysses da Silveira Guimarães, 76 anos, sua esposa Mora, e mais o casal Severo Gomes (ex-ministro, ex-senador) e Henriqueta partem de volta a São Paulo. Dirigido pelo experiente piloto Jorge Comeratto, o helicóptero de prefixo PT-HMK, emprestado pelo empresário paulista Jorge Chammas Neto (Moinho São Jorge), é avistado pela última vez meia hora depois da partida, por volta das 17 horas, voando baixo, a cerca de 50 metros acima do nível das ondas, costeando o litoral, abaixo de uma impiedosa chuva de granizo.

O industrial Arthur Vicintin Neto - que tem casa ali e pescava naquele momento - avistou a aeronave tentando romper a barreira das espessas nuvens que tomavam conta do céu: "O piloto ciscava, procurando um buraco no meio das nuvens", lembraria ele mais tarde. Naquele momento sopravam ventos de mais de 100 quilômetros por hora e só por milagre não aconteceria uma tragédia.
O milagre, porém, não aconteceu: as forças da Natureza foram mais fortes e em breve o Brasil saberia que o líder máximo das oposições durante o regime militar, o Senhor Diretas, o Anticandidato a Presidente da República, Ulysses Guimarães, estava morto, junto com todos os demais ocupantes do helicóptero.
A morte de Ulysses (até hoje o corpo, ou o que dele sobrou, não foi encontrado) representou, de certa maneira, o fim de uma era. Calvo, de voz grave, incisivo e destemido, o Senhor Diretor personificou a intransigente oposição ao regime de arbítrio que se instalou com o AI-5. Democrata, de tendências moderadas, o paulista Ulysses Guimarães elegeu-se deputado estadual em 1947, quando contava apenas 30 anos de idade. Em 1950 tornou-se deputado federal, também por São Paulo. Em 1956 foi escolhido presidente da Câmara Federal e, em 1961, no curto gabinete parlamentarista de Tancredo Neves, tornou-se ministro da Indústria e Comércio. Com o golpe militar de 1964, Ulysses - que, discretamente, apoiou o movimento - parecia estar marchando para um direto apoio à chamada "revolução". Porém, ao constatar que a volta à democracia não estava entre as prioridades dos militares e que muitos atos de arbítrio já estavam sendo praticados, Ulysses - advogado por formação - imediatamente bandeou-se para as hostes oposicionistas - ele, que tinha sido do PSD, enfileirou-se com o recém criado Movimento Democrático Brasileiro, o MDB. Candidato por este partido (então rebatizado de PMDB) na primeira eleição direta do período da redemocratização, amargou o quinto lugar na contagem final dos votos, não tendo sequer ido ao segundo turno.
A morte de Ulysses - que havia ido passar o final de semana no litoral de Angra, mais exatamente na casa do empresário Luis Eduardo Guinle - encerrou uma carreira política de quatro décadas, com onze mandatos consecutivos, vigorosos pronunciamentos em favor da democracia e um estilo incandescente de oratória que marcou época. Com ele, no mesmo vôo, desaparecia outra figura destacada da oposição ao regime militar, regime ao qual, curiosamente, serviu em seu início - o ex-ministro da Agricultura do governo Castelo Branco, ministro da Indústria e Comércio de Ernesto Geisel, ex-secretário de Ciência e Tecnologia do governo paulista de Fleury Filho, o ex-senador Severo Gomes. Udenista por formação, Severo desencantou-se com a Revolução de 1964 e, em 1979, bandeou-se para a oposição. Franco e direto, reconhecia ter mudado, "tarde, mas não demasiado tarde".

Celular, em 1991, era "telefone portátil"

Para vocês, que têm vinte e poucos anos, essa época parece inimaginável - alto pré-histórico, talvez. Mas,  não faz muito, telefone celular era uma grande novidade, e poucos tinham acesso a ele. Hoje são mais de 100 milhões de aparelhos - e até carroceiros o usam com a maior naturalidade. Garimpando os arquivos, o Conselheiro X. descobriu um exemplar da revista Veja de 8 de maio de 1991. O título era "O Mundo no Bolso", e noticiava a grande novidade que, pasmem, já tinha 3 mil usuários no Rio de Janeiro! - a telefonia celular, ou os "telefones portáteis". O sistema era caro e complicado, como se pode imaginar.
Vamos transcrever algumas partes dessa matéria "jurássica":

"A platéia não entendeu nada. Durante uma sessão do filme Três Solteirões e uma Pequena Dama, em cartaz no Cine Rio Sul, no shopping da Gávea, no Rio de Janeiro, o toque abafado de um telefone ecoou numa das poltronas do cinema. Um dos espectadores, uma loira elegante, tirou um telefone da bolsa, atendeu a chamada e teve uma conversa rápida com um interlocutor. Era a socialite Aparecida Marinho, 38 anos, ex-mulher de Roberto Irineu Marinho, um dos herdeiros do império da Rede Globo. Aparecida levou ao cinema um telefone celular - um aparelho portátil que se comunica através de ondas de rádio - para conversar com sua filha, Maria Antonia, 13 anos, que não pode ir à matinê com a mãe. "Esse telefone é um estouro. Nunca perco o contato com os meus filhos, e, quando fico presa no trânsito, ganho tempo fazendo ligações", diz Aparecida.
"Os telefones celulares desembarcaram no Rio de Janeiro no final do ano passado e caíram no gosto de 3 000 assinantes na cidade - entre os quais empresários, políticos e colunáveis, que agora fazem ligações de dentro de carros, barcos, aviões, restaurantes ou à beira-mar. Facilitam bastante a vida de seus usuários - mas também fazem sucesso como símbolo de status da estação. (...)
"A vantagem mais óbvia dos telefones móveis - que chegaram aos Estados Unidos há sete anos e contam hoje com 5,3 milhões de assinantes - e que eles acabam com um castigo a que o usuário era submetido, o de ficar preso à mesa de trabalho ou em casa, para dar ou receber um telefonema. Agora, basta levar o telefone celular no bolso. "Ganhei liberdade", explica o executivo Richard Klien, vice-presidente da empresa de navegação Transroll, que comprou um telefone celular. Na semana passada, ele precisou fazer uma viagem a Brasília - e fechou um negócio milionário em pleno ar.
(...) "A grande desvantagem do sistema de telefonia celular no Rio de Janeiro são os preços salgados. Os assinantes têm que pagar uma série de taxas para entrar no sistema. De depósito para a Telerj, é preciso pagar 1167 131 cruzeiros. Depois de dois anos essa caução pode ser devolvida se o usuário desistir da linha. Para comprar um modelo de telefone celular, os preços variam de 250 000 cruzeiros a 600 000 cruzeiros por aparelho. O minuto de uma ligação comum custa menos de 6 cruzeiros. Apesar dos preços salgados, mais de vinte pessoas se tornam usuárias do sistema a cada dia."
(...)"O telefone móvel é um símbolo de modernidade que vem dar um grande charme ao Rio, diz o presidente da Telerj, Eduardo Cunha."